segunda-feira, 7 de maio de 2012
Ditadura embelezadora
Bebo meu chá. Mais uma vez. Depois mais uma vez. Dia após
dia. Bebendo chá verde. Dizem que emagrece. Tira líquido do corpo. Desincha.
Parece que não está fazendo efeito. Sim, meu corpo definitivamente não foi
feito para estes modismos sobre dietas e cremes embelezadores. Meu corpo
resiste friamente a tudo que eu lhe imponho. Sente-se mal com minha
arbitrariedade. Sou mau, meu corpo sofre. Cedo às pressões da sociedade. Não
posso ter acne. Não posso ter gorduras localizadas. Preciso ter uma postura
impecável. “Faz bem para os órgãos internos” – dizem alguns. “Fica mais
esbelto, austero” – dizem outros. A verdade é que meu corpo é uma máquina de
fazer dinheiro. Alheio. Pois para mim, é como se fosse uma dondoca entediada num
luxuoso shopping da zona sul. Ainda não tive a coragem de contabilizar o quanto
o bendito já me custou. Mas ainda assim eu gosto muito dele, pobrezinho. Sofre
tanto em minhas mãos. Mas ele precisa responder ao que eu lhe imponho. Ele
precisa não ter barriga. Faz semanas que não como carboidratos no almoço. Por
que diabos essa barriga persiste? Comprovo alguns mistérios da ditadura da beleza
contemporânea. Chá verde? Dá barriga. Chopp? Dá barriga. Óleo de coco? Dá barriga. Verduras e
legumes? Dá barriga. Massa? Dá barriga. Aparelhos abdominais da Polishop por apenas mil reais cada? Dá barriga. Creme antioleosidade? Dá espinha. Adstringente que tira todo o óleo de seu rosto, até mesmo do pré-sal? Dá espinha. Esqueça.
Seja feliz, vá tomar um sorvete cremoso de cappuccino e trufas coberto por uma deliciosa calda de chocolate branco porque você vai ter barriga de qualquer
jeito mesmo. Ou ainda está crente que é capaz de ter uma barriga estilo tanquinho e um rosto liso e sem machas como se fosse num passe de mágica? Vê se fica atento!