Sinto-me sem alguma coisa. Como se tivesse um vazio no peito. Nada relacionado a minha vida amorosa. Tem relação com minha vida enquanto ser que tem algo a mostrar/fazer/trabalhar/lutar. O que estou fazendo da vida? Às vezes sinto como se eu estivesse preso. O sistema me prendeu e eu não tenho como mais me soltar. Enrolei-me mais do que deveria. Diverti me enrolando, enrolando, enrolando mais um pouco e veja só! Estou completamente sem saída. "Tchau, até nunca mais, não volto, não contem mais comigo." Como se fosse fácil dizer estas palavras. Quando eu tinha 16 anos, trabalhei como assistente numa farmácia pequena de uma cidade menor ainda. Achava que aquele "emprego" era o começo de minha carreira profissional. Não poderia errar, pois estragaria meu currículo por toda a eternidade. Fui dispensado no quarto mês. Claro, fiquei arrasado, como se o mundo inteiro tivesse se desmoronado em minha frente, e eu, assustado, não pudesse fazer nada, apenas vê-lo desmanchando sobre meus dedos. "Tolinho, um trouxa mesmo." Isso é o que penso atualmente, mas às vezes ajo como se eu continuasse sendo um tolinho ainda. "Inocente, não conhece nada sobre o mundo." Isso é o que vou pensar quando tiver 50 anos. Talvez 30. Minha dor aumentou, melhor parar de escrever. Tonto. Melhor parar mesmo.
Antes de cair duro da cadeira, quero resumir nas palavras da grande decifradora da alma humana o que acabei de escrever logo acima:
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. (Clarice Lispector)