domingo, 1 de abril de 2012

A Hora da Clarice

Com o ensejo sobre a Clarice Lispector, resolvi ler mais uma vez sua penúltima obra: A Hora da Estrela. É um livro curto, apenas 87 páginas. Mas é denso, não consigo ler esse tanto de páginas no mesmo tempo quando leio um livro de Weisberger, por exemplo. É um livro que merece atenção especial, pois cada palavra tem um significado único que Clarice, no pseudônimo de Rodrigo S.M., expressa toda a sua ansiedade enquanto escritora e "sobrevivente" já cansada:

"Quero que me lavem as mãos e os pés e depois - depois que os untem com óleos santos de tanto perfume. Ah que vontade de alegria. Estou agora me esforçando para rir em grande gargalhada. Mas não sei por que não rio. A morte é um encontro consigo."

Clarice realmente precisava matar sua personagem.

"Até tu, Brutus?!"

Foi o que Rodrigo S. M. escreveu quando Macabéa enfim morreu. À propósito, esse é o nome da personagem principal do livro, uma nordestina que "a mulherice só lhe nascera tarde porque até no capim vagabundo há desejo de sol. (...) Ela sabia muita coisa assim como ninguém ensina cachorro a abanar o rabo e nem a pessoa a sentir fome; nasce-se e fica-se logo sabendo". Forte, intenso, cruel.

Não sou especialista em Literatura, mas o pouco que sei eu posso afirmar que nesta obra eu vejo a procura por um entendimento sobre a vida de uma pessoa que está cansada da mesma, por tê-la vivido tão intensamente. Em muitos momentos Clarice destaca sua necessidade crucial de escrever esta história, como se fosse um último suspiro. Ela passou sua infância no Nordeste, mas em nada se assemelha com Macabéa. Por que esta necessidade de escrever sobre uma imigrante nordestina pobre em todo o sentido possível, que nem sabe se é feliz ou não?

Uma história simples, que realmente me toca.

Será que alguém poderia me dizer por que Clarice precisava tanto de contar a história de Macabéa? Ainda mais sentindo que a morte se aproximava? Gostaria tanto de entender...