terça-feira, 10 de abril de 2012

Grupo de risco: discriminado


Hoje tentei doar sangue pela primeira vez, mas não consegui. Motivo: sou gay. Simples e cruelmente. Fui impedido logo na entrevista pelo médico da Hemominas. Tenho um único parceiro sexual há mais de três anos, mas como sou homossexual, então me encaixam automaticamente num conceito estúpido e já ultrapassado de “grupo de risco”.

— Quantas parceiras sexuais você teve no último ano? — perguntou o médico da Hemominas.
— Um — respondi.
— Já teve relação sexual com prostitutas?
— Não.
— Já usou drogas injetáveis?
— Não.
— Teve relação sexual com uma pessoa do mesmo sexo no último ano?
— Meu parceiro atual é homem.

Depois dessa resposta já notei uma reação diferente por parte do médico. Logo após, ele fez outras poucas perguntas e me informou.

— Infelizmente você não poderá doar sangue hoje — o médico pegou uma apostila da Hemominas e acrescentou. — Conforme o Ministério da Saúde, você pode ver nesta tabela aqui, homem que teve relação com outro homem nos últimos doze meses se apresenta como grupo de risco e por isso...
— Então gay não pode doar sangue? Só por ser gay?
— Bem, isto é muito contestado mesmo, mas são as normas do Ministério da Saúde.

Saí da sala atordoado, nem me lembro do que disse ao médico depois disso. Olhei para as outras pessoas que estavam na sala de espera para a entrevista com o médico e senti vergonha não sei de quê. Nesta hora eu me senti completamente discriminado. Sim, eu fui discriminado por causa de minha sexualidade.

Se o médico tivesse me mostrado um exame de sangue que apontasse que possuo uma doença que está na lista do Ministério da Saúde, tudo bem. Sem discussão. Mas eu nem cheguei a fazer exame nenhum, fui descartado logo na entrevista por ser gay. Em pleno 2012 o Ministério da Saúde do Brasil ainda acha que os homossexuais são um grupo de risco? Todo mundo sabe que se você transar sem camisinha já está em risco, seja você gay, hétero, transexual, bissexual, ou qualquer outra coisa.

Então é isso, pessoal. Se esse absurdo continuar, o recado é claro: se você é gay e tem uma vida sexual ativa, não vá doar sangue. Não perca seu tempo sendo discriminado. Enquanto isso eu tenho esperança de que essa norma furada do Ministério da Saúde ainda seja revista por pessoas realmente competentes.